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27/01/2020 00:00

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Fila sem fim, 40min para entrar: o 'corre' no metrô mais cheio da periferia

Cleber Souza

Para chegar às 9h em Moema, zona sul de São Paulo, a recepcionista Camila Alves, 38, sai de casa no Embu Guaçu (Grande SP), a 40 quilômetros do seu local de trabalho, com três horas de antecedência. E parte desse tempo, afirma, é gasto tentando entrar na estação e depois lutando para embarcar em um vagão na estação Capão Redondo, na ponta da linha 5-lilás do metrô.

Prestes a completar 18 anos, a estação entrou nos últimos meses para o top dez das mais cheias do metrô paulistano —a única dessa lista na periferia da cidade e também a única com apenas uma linha de metrô. As demais no ranking são estações de conexão entre ramais do metrô ou permitem baldeação com trens da CPTM.

No fim de 2018, a linha 5 passou a se conectar à 1 na estação Santa Cruz e à 2 na Chácara Klabin.

Com o trecho completo, o volume de passageiros por dia na linha quase triplicou, comparando janeiro de 2018 e novembro de 2019, quando houve recorde de usuários, com 622 mil passageiros por dia. Dezembro, com os feriados de fim de ano, teve ligeiro recuo na demanda.

Na estação Capão Redondo, a demanda saltou de 60 mil entradas por dia no início do ano retrasado para 104 mil em novembro passado.

E os reflexos são sentidos diretamente pelos usuários da estação, que relatam ter de esperar até 40 minutos para embarcar.

"É essa dificuldade todos os dias. Aqui você tem de ter paciência e esperar chegar outro trem para poder entrar", disse Camila à reportagem, enquanto tentava chegar ao trabalho. Ela diz que não consegue embarcar antes de, no mínimo, três trens chegarem.

Filas às 6h

Com capacidade estimada para 22 mil passageiros por hora, segundo a ViaMobilidade, empresa privada que opera a linha, Capão Redondo tem filas para passar do terminal de ônibus metropolitanos anexo à estação do metrô; para passar as catracas e para finalmente embarcar.

Às 6h de uma terça-feira deste mês, mais de 20 pessoas se enfileiravam diante de cada uma das catracas para entrar na estação. Às 8h40, somente uma das duas plataformas estava aberta para o embarque.

"Saio de casa às 6h30 para chegar às 9h30 no serviço. Pego um ônibus que demora uma hora e meia para chegar até a estação Capão, que é a mais próxima da minha casa. Chego no metrô por volta de 8h e sempre encontro essa superlotação. A estação ainda peca em muita coisa. O empurra-empurra e os furtos são costumeiros, a segurança não dá conta", diz Evelin Aparecida, 20, estudante de enfermagem.

Ela mora em Embu das Artes, na Grande São Paulo, e pega o metrô até a estação Santo Amaro, que liga a linha 5 com a 9-esmeralda da CPTM.

O controlador de acesso Douglas Santos, 42, usa a linha diariamente para ir ao trabalho próximo à estação Santa Cruz e também se queixa da lotação.

"Todo dia e toda hora é assim: cheia. Tem dias que a demora é de até 40 minutos para pegar um trem. Ir sentado daqui do Capão? Muito difícil. Só se eu ficar esperando mais de duas horas", disse Santos.

Sem espaço nem para ambulantes

Com as composições cheias desde Capão Redondo, é difícil entrar nas próximas estações.

Nas viagens feitas pela reportagem no horário de pico pela manhã, passageiros que tentavam embarcar na Giovanni Gronchi, três estações depois, desistiam. Muitos pegavam trens de volta para Capão Redondo para tentar retornar no sentido Chácara Klabin.

Na estação Santo Amaro, apesar dos desembarques, uma nova leva de passageiros mantinha a lotação do trem até Santa Cruz ou Chácara Klabin.

Não há espaço nem para os vendedores ambulantes, presentes em outros horários.

"Hoje, Parelheiros vem ao Capão para poder chegar ao Centro de Metrô. Vem todo o fundão da Zona Sul para usar o Metrô, então virou um caos", diz Bruno Capão, 30, empreendedor social.

No sentido contrário, os vagões saem cheios da Chácara Klabin, mas a lotação é visivelmente menor na plataforma, e o embarque é menos tumultuado.

O trem vai se esvaziando já nas estações seguintes e, em Borba Gato, oito paradas depois da inicial, já é possível se sentar.

O gráfico abaixo, com entradas de passageiros por dia, mostra a diferença no volume de passageiros entre as estações:

Soluções

Para diminuir a lotação da linha e das plataformas, o professor de engenharia civil e mobilidade urbana, Humberto Paiva, sugere alterações "mais operacionais do que estruturais".

"Talvez uma redução no intervalo entre um trem e outro. Ou mais carros na linha em horários de maior fluxo", afirma.

Os intervalos são de até 3 minutos em horários de pico.

Hoje a linha 5, com 17 estações, liga Capão Redondo até Chácara Klabin em 40 minutos.

Volta para casa: mais tranquilidade

No fim da tarde, a volta para casa é menos dura para os passageiros.

Na Chácara Klabin, às 17h, apenas uma das duas plataformas está aberta, mas as filas são menores do que na estação Capão Redondo pela manhã.

A volta para casa dura 35 minutos em horário de pico.

Mônica Castanho, 56, diarista, afirma que a volta para casa é mais tranquila — desde que a linha não apresente problemas, que, segundo ela, são frequentes.

"Quando a linha tem falhas, aí é cerca uma hora para chegar até o Capão. Por enquanto está tudo tranquilo", disse.

Segundo a ViaMobilidade, de janeiro a novembro do ano passado foram registradas 34 falhas na linha, oito delas por acesso indevido de passageiros à via.

Concessionária diz que amplia operação

Em nota, a ViaMobilidade afirma que fez adequações para atender o crescimento da demanda na estação Capão Redondo, incluindo o aumento de 11 para 15 catracas.

A empresa também diz que há 25 trens estão em circulação na linha atualmente e afirma que "é responsável somente pela operação de manutenção da linha. Qualquer projeto é de responsabilidade do Governo do Estado de São Paulo".

Questionada sobre o fato de haver apenas uma plataforma da estação Capão Redondo aberta no período da manhã, a empresa afirmou que se trata de "estratégia operacional para atender com mais rapidez a demanda de passageiros".



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